Paciência de Jó?



Como cristãos, somos chamados a confiar em Deus mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis. Vamos examinar a história de Jó e Elias, dois personagens bíblicos que nos ensinam valiosas lições sobre encontrar força em Deus durante os momentos difíceis.

"Assim como vim ao mundo sem nada, também partirei sem nada. O Senhor deu, o Senhor tomou; bendito seja o nome do Senhor!" Jó 1:21

Essa citação é frequentemente usada por pessoas que passaram por adversidades, muitas vezes relacionadas a perdas materiais. Para aqueles mais espiritualmente inclinados, é comum atribuir a Deus os infortúnios que enfrentam e resistir corajosamente é considerado um sinal de nobreza espiritual, pois "o ouro é refinado no fogo".


Recentemente, tive a oportunidade de ler algumas obras inspiradoras, como "Mensagem de Deus Para Você" e "As Mentiras que nos Contaram Sobre Deus", que abriram minha mente e me permitiram reavaliar algumas afirmações, sejam elas religiosas ou repetidas incansavelmente em palestras motivacionais e livros de autoajuda. Essas reflexões fazem toda a diferença para uma vida mais leve e com menos sofrimento.


A palavra "paciência", derivada do latim "pati", significa sofrer. No livro "Ganhar Dinheiro Não é Pecado", o autor afirma que "a paciência demonstra a capacidade de suportar aflições sem se queixar". Portanto, não há dúvida sobre a fidelidade de Jó (Jó 1:1), uma vez que ele não amaldiçoou a Deus como sugeriu sua esposa (Jó 2:9). No entanto, Jó está longe de ser perfeitamente paciente. Vejamos alguns exemplos:


- Ele amaldiçoou o dia de seu nascimento (Jó 3:1).

- Ele acreditou que estava sendo castigado por Deus (Jó 6:4).

- Ele se queixou de seus irmãos (Jó 6:15).


Diante das adversidades, é comum esquecermos o quanto Deus já fez por nós. Antes de enfrentar quatro tragédias consecutivas, Jó era conhecido como o homem mais próspero do Oriente.


Não quero criticar Jó nem aqueles que o consideram o homem mais paciente que já existiu. Mas quero destacar que, como qualquer outro ser humano, sujeito às mesmas paixões que nós, ele se precipitou ao murmurar, assim como nós frequentemente fazemos.


Outro personagem bíblico que se sentiu sozinho em meio às lutas foi Elias. Conhecido por ser um grande profeta e realizar grandes milagres, ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra por três anos e meio (Tiago 5:17).


Em outra ocasião, através de sua oração, fez descer fogo do céu (1 Reis 18:36-38). No entanto, quando ameaçado por uma mulher, ele fugiu com medo e se escondeu em uma caverna, pensando que tudo estava perdido, sem saber que outros cem profetas estavam sendo protegidos por Obadias (1 Reis 18:4).


Jó recuperou sua prosperidade quando parou de falar, ouviu a voz de Deus e orou por seus amigos que o acusaram de estar em pecado. Elias, depois de ouvir a voz de Deus, saiu da caverna, encontrou Eliseu e juntos seguiram até que Elias fosse levado aos céus em um redemoinho.


É importante destacar que tanto no caso de Jó como no de Elias, Deus não foi o causador das aflições. Deus é um Pai amoroso e provedor. Ele deu a Jó o dobro de tudo o que tinha antes (Jó 42:10). Ele deu a Eliseu uma porção dobrada do espírito de Elias (2 Reis 2:9).


Repetir incessantemente "Deus deu, Deus tirou" não apenas é injusto com Deus, mas também não tem respaldo bíblico, pois foi Satanás o responsável pelas desgraças de Jó, embora com o conhecimento de Deus.


Deus é um Pai que nos ama, que nos abençoa e que deseja o nosso bem. Ele não nos tira coisas para nos punir, mas nos dá oportunidades de aprendizado e crescimento em meio às dificuldades. Devemos confiar em Seu amor e buscar ouvir Sua voz em meio às tribulações.


Assim como Jó e Elias, podemos encontrar força e renovação em nossa fé quando nos aproximamos de Deus, buscamos Sua orientação e nos apoiamos naqueles que Ele coloca em nosso caminho. Deus é o nosso refúgio e nosso provedor, e podemos encontrar consolo e paz em Sua presença, mesmo nos momentos mais difíceis.


Que possamos aprender com a experiência de Jó e Elias, reconhecendo que a paciência não é ausência de dor, mas sim a capacidade de suportar as adversidades com confiança em Deus. Que possamos confiar em Seu amor, buscar Sua sabedoria e permitir que Ele nos guie em todas as circunstâncias da vida.


Para saber mais:


"Resposta a Jó", por C.G. Jung:


- Neste livro, Jung argumenta que Jó representa a figura arquetípica do "self" (o eu mais amplo e integrado) e que seu sofrimento e questionamentos revelam uma crise no relacionamento entre o homem e Deus. Ele explora a ideia de que a humanidade precisa confrontar as imagens e concepções antigas de Deus para que uma nova compreensão e relação possam ser estabelecidas.



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